Leda Catunda é paulistana, mas sua arte transpõe mundos. Ela por si só é bela e cheia de bossa e ainda tem a arte como companheira. Bossa para todos os gostos. Ela é um twist. Um arrepio e um convite para uma busca de sensações e se colocar em casa uma das sua obras com certeza você tem bom gosto. Suas obras são provocativas e alinham um monte de fazeres. Costuras, linhas, pinceladas são camadas que revelam e que surpreendem.

Como toda canceriana seu charme é abundante. Uma mulher que vive o seu tempo e sobre esses tempos pandêmicos trocamos um email de carinho e atenção. 

1) Como está seu tempo de quarentena?

O tempo está estranho, sempre desconfiei que há uma elasticidade que desconhecemos na textura temporal. E agora, com a interrupção abrupta do cotidiano neurótico, me vejo de volta ao um certo tempo com o qual convivia nas férias escolares na infância, que é o tempo que não passa. Comprovando a teoria da velocidade irregular do passar do tempo vejo e sinto que ele se arrasta com horas iguais mas que, subitamente já passou e estou bem atrasada para responder essas perguntas.

2) Sua rotina mudou?

 Consigo ir ao ateliê quase todos os dias, pois fica a dois quarteirões e assim posso continuar pintando. Para a segurança de todos, não há mais ninguém lá. Assim, a ausência de muitas pessoas ao redor é a principal diferença na rotina. As muitas tarefas domésticas se impõem, além da preocupação com as pessoas idosas da família, pais, tios e tias.

3) Você gosta de ler? Tem lido?

Sim, gosto muito de ler. Estou lendo um romance muito antigo, do século II, de Apuleio, “O asno de ouro” sobre um homem chamado Lucio que por efeito de magia de metamorfose é transformado num burro e passa a narrar suas aventuras entre um bando de ladrões na Grécia antiga.

4) Sexo e Romance sua última exposição em Portugal  explorava  as mil possibilidades do tema com vinda da pandemia teremos que repensar  o sexo e o romance ou vamos só adicionar “uma folha ou mais um layer ao tema”

Acho que a questão do amor e da compaixão e de alguma maneira isso inclui sexo também é inata à humanidade como um todo. Sim é preciso todo o tempo renovar nosso olhar sobre esse tema que nos movimenta a alma toda de um jeito tão especial. Incluir mais e odiar menos pode ser um bom jeito de seguir.

Mesmo sem a pandemia, já faz tempo que esse mundo repleto de descuidos e injustiças estava precisando de um boa chacoalhada. Parece um pouco cruel que a mudança tenha que se dar em meio a tanto sofrimento e perdas. Não me atrevo a prever o porvir, apenas imagino que será fruto da vontade coletiva de sobreviver e de evitar incorrer nos mesmos erros do passado. 

5)Você ama imagens e cores  o que você tem visto que tem te emocionado?

        Outro dia revi Speed Racer das irmãs Wachowskis, que considero sensacional, pelos cortes e sobreposições constantes como um H.Q. animado, com uma trilha sonora super top, um filme inteiro roxo e verde. E mesmo a previsibilidade do roteiro voltado ao publico infanto-juvenil, com vilões óbvios dá um espaço maior pra o lado visual de um pop enlouquecido e hiper veloz. Infelizmente uma sala IMAX 3D com som Dolby stereo faz muita falta nessa hora…

6) Você trabalha com memória sensorial? 

 A memória sensorial é a base do processo de criação de qualquer artista. A arte assim como a ciência, está referenciada na vida e no mundo. Percebendo o entorno, paisagens, pessoas e animais, vivencio as realidades e vou criando uma coleção de imagens para compor um discurso poético.

7) O seu processo criativo vem como o “fazer” ou você sabe já de antemão o que vai fazer?

 Há uma “intensão geral”, vamos chamar assim, que é sempre consultada. Um humor e uma vontade que se repetem no processo de construção das imagens nas pinturas, desenhos e gravuras. No entanto, como a apropriação de materiais e a colagem são os procedimentos principais, existem também “encontros” com o inusitado que transporto ocasionalmente para dentro das obras.

8) Você abandona trabalhos e depois retorna ou é mais compulsiva fica em cima até ficar pronto?

O tempo de realização dos trabalhos vária bastante. Alguns trabalhos acontecem num fluxo quase continuo que vai do início até o fim, através de uma visão clara uma vibe toda positiva. E há outros bem mais lentos cheios de mistérios que precisam ser desvendados com tempo e paciência.

Leda Catunda está na galeria Fortes D´aloia&Gabriel.

 

Fotos Divulgação

Friends – Friends, 2019
69 x 96 cm
acrilica s/ tecido Foto Everton Ballardin
Leda Catunda -Foto Leila Fugii
Línguas Rosa –  2019
156 x 108 cm
acrilica s/ tecido Foto Flavia Vieira