Foi em Bogotá, que pela primeira vez vi o trabalho do escultor Rodrigo Sassi. Era a ARTBO 19 e ele estava no stand da Central Galeria. No meio há tantos artistas sul-americanos, europeus o seu trabalho me arrebatou. Comecei a pesquisar sua obra e confesso cada vez mais esse suas esculturas me impressionam.  Fui até a Central Galeria vi de perto outras obras e curti é claro o seu instagram.  As linhas e sua ocupação espacial e as curvas me fascinam.  Uma chicotada no ar.

Existem muito de dominação do homem e da matéria. Para mim é quase como propor outro caminho. Uma engenharia nova dentro da de um espaço que ás vezes encontra o seu limite e por ser uma obra de arte, mas o pensamento corre livre.

 Paulistano, o urban cowboy Rodrigo Sassi trafega livre pelo caos urbano e o reinventa.  Fizemos algumas perguntas e ele nos atendeu. Enjoy!

 

Quando você começou a pensar sobre uma carreira artística?

Por volta de meus 15 anos comecei a fazer grafite com alguns amigos de escola, naquele momento não imaginava que isso poderia me levar a uma carreira como artista. O interesse por esse universo seguia se intensificando e minha dedicação aumentava a cada novo trabalho. Como meus pais eram da publicidade, sempre fui influenciado a seguir o mesmo rumo e, para mim que vivia dentro daquele contexto, aquilo me parecia certo. Cheguei a prestar vestibular para propaganda e marketing, mas meu envolvimento com as artes na época já era grande e acabei me voltando para aquilo que eu realmente estava afim de seguir. Mesmo consciente que esta era uma decisão de impulso e sem ideia nenhuma de onde estava pisando, acreditava que aquele era o momento para arriscar. Hoje vejo que foi uma decisão acertada.

Você é paulistano? Fala um pouco sobre sua relação com a cidade. Você tem limites dentro da cidade?

Sou nascido e criado na cidade de São Paulo. Durante minha vida morei em diferentes regiões e, ainda assim, me sinto um estranho em muitos lugares por aqui. A dinâmica dessa cidade me fascina e perturba. Estas questões pessoais se colocam presente em meu trabalho, intensificando ainda mais minha condição em relação a este ambiente que me circunda.

Sobre limitações, acredito que todos temos nossos limites. Inicialmente quando trabalhava com grafite e interversões urbanas a coisa era mais descambada, hoje adquiri uma responsabilidade e maturidade tanto em relação ao meu trabalho, mas também em relação a cidade. Antes de colocar um trabalho na rua ou, intervir sobre espaços públicos, penso, reflito e discuto o projeto bastante para não causar mais cicatrizes na cidade.

 

As suas obras tem grandes proporções você pensa sua obra inteira ou ela vem em pedaços?

Tenho obras de tamanhos variados e, dependendo da escala, a concepção e produção das obras seguem por caminhos distintos. Independente da proposta ser um site-specific, ou uma escultura menor, penso numa composição única.  A situação em que a obra será exposta e sua finalidade definem se essa unidade será feita em partes ou, de forma continua. Normalmente as esculturas são feitas em partes para serem montadas e desmontadas, facilitando no transporte e distribuição de peso.  

Quais materiais que você usa para suas esculturas?

Os trabalhos são feitos basicamente com materiais reaproveitados de descarte da construção civil, como madeiras, vergalhões, cimento e areia, assim como variados objetos encontrados na cidade e que um dia fizeram parte de sua estrutura. Estes objetos são agrupados, reformulados e descontextualizados de suas funções originais, ora apresentam-se reconhecíveis ao nosso olhar, ora não.

Você delimita a sua criação por períodos ou você segue em um fluxo livre?

Minha produção é livre e, na medida do possível, cada obra segue sua própria dinâmica e tempo de realização. No mundo real a demanda é que determina meus prazos e, consequentemente, algumas obras tem que se adaptar a deadlines que me forçam a correr mais ou menos com cada trabalho.

Minha rotina de atelier é diária, porém, nem sempre o estar no ambiente de trabalho significa produzir no sentido prático. Posso passar dias indo pra meu estúdio apenas para observar obras que estão em processo, planejar o que está por vir ou somente curtir o espaço.

Rodrigo Sassi – Foto Daniela Ometto

Qual é a sua relação com a cor?

Como a matéria-prima do meu trabalho é proveniente de descarte, assim como alguns materiais e objetos que encontro na cidade, acredito que manter as características originais destes são fundamentais para o entendimento da obra. Busco em uma composição equilibrar estes elementos, tanto em relação à sua matéria e forma, como suas cores. Se certo objeto destoa da composição por conta de suas cores, este é automaticamente descartado e substituído por outro. Neste sentido, tenho uma relação de respeito com as cores de minhas obras sempre as preservando no estado que chegaram a mim, incluindo suas marcas do tempo e desgaste.    

A forma das suas obras como você elabora você usa algum recurso como um desenho?

Sempre parto de um esboço de movimento, desenho no papel, chão ou parede, nada muito elaborado.  A ideia do desenho é entender o espaço e como eu quero que a obra se comporte sobre ele. Durante o processo de produção a obra vai seguindo seu próprio caminho e, o desenho original, se distanciando da realidade tridimensional.

Rodrigo Sassi

Você interrompe processos criativos ou você vai até terminar?

Muitas vezes o processo se interrompe para dar prioridade a algum outro trabalho, vezes por demanda, vezes por conta do tempo do trabalho. Normalmente tenho uns 2 ou 3 trabalhos sendo feitos ao mesmo tempo no atelier, sempre em estágios diferentes.

Quais são os melhores momentos para você criar?

Normalmente as coisas fluem mais quando estou sozinho no atelier. Me programo para que estes momentos aconteçam regularmente. Quando estou com assistente trabalhando ao meu lado, a dinâmica é outra e a parte prática funciona melhor do que a criativa.

O caos urbano é uma inspiração? E o que mais te inspira?

O caos urbano é sim uma inspiração, mas, ainda em relação a cidade, o movimento e sua transformação são também pontos bastante considerados em minha poética. A inspiração pode chegar por diversos caminhos, como pela música, arte, cinema, design, arquitetura, viagens… Como diria lindamente Ney em Transpiração, “A inspiração vem de onde? Pergunta para mim alguém
Repondo talvez de longe. De avião barco ou bonde? Vem com meu bem de Belém. Vem com você neste trem…

Rosrigo Sassi – Foto Monica Ogaya
Rodrigo Sassi