Pelé, o rei do futebol e o seu talismã

Cresci ouvindo falar de Pelé. Lembro que minha primeira ida ao Maracanã foi para assistir Botafogo, o meu time de coração contra o Santos do Pelé.  Na minha mente não ocorria que o time do Santos Futebol Clube era mais que Pelé. Eu queria ver o Botafogo de Jairzinho, Paulo César, dos craques de 1968. Foi um sonho. Não me perguntem quem ganhou. Não faço ideia.

Pelé no Santos Futebol Clube

 Em 1970, meus pais então separados e morávamos em Ipanema na Prudente entre as ruas Joana e a então Montenegro, eu com minha mãe e meus irmãos. O apartamento era um sala e três quartos e um prédio sem elevador. Era o máximo.  A Copa do Mundo, no México foi a primeira manifestação pública que eu conheci. Adorava falar Guadalara.

Depois de cada jogo aquela confluência de torcedores no cruzamento da Prudente de Morais com a Montenegro, em frente ao bar Garota de Ipanema. Muita bebida e alguma batucada e daqui a policia chegava e baixava os cassetetes em todos. Eu não entendia nada corria de volta para casa. Não podia aglomerar e eu só fui entender os motivos anos depois.

 Havia um homem louro alto de sunga preta que circulava por ali. Parecia um “Homem de Neerdental”. Grande. Todo jogo ele bebia até cair e os policiais enfiavam a porrada nele.  Até que o Brasil ganhou o título e não houve polícia para impedir a festa e o Pelé foi consagrado como o “Rei do Futebol”.

Pelé na Seleção Brasileira de Futebol

 O tempo passou e o futebol foi perdendo espaço na minha vida. Botafogo não foi mais o mesmo time e a seleção brasileira só voltou a ganhar a Copa do Mundo em 1994, em Los Angeles. Antes disso, o vôlei tomou o espaço reservado para ídolos e é assim até hoje.  

 Mas, o Pelé. Eu voltei a encontrar o Pelé lá no final dos anos 80 do século passado. Eu trabalhava como fotógrafo na boite Calígula que era do empresário italiano Stefano Monti e onde circulavam todas as celebridades que estavam pela cidade maravilhosa e uma noite em alguma daquelas festas quando eu cheguei para trabalhar soube de imediato que o Pelé ia aparecer. Normal. Bom, para mim era normal.  #soquenao

 Assim que o Rei chegou já estava cercado por um bando de amigo, repórteres, fotógrafos e duas modelos e como era uma festa eu não era o único fotógrafo havia vários que logo começaram a dispara seus flashes e disparei, mas não peguei nenhum ângulo especial e deixei para lá.  Fui fazer outras fotos e cruzei com Ana Maria Thornaghi que era a responsável pela divulgação do clube e que me perguntou.

– Fez foto do Pelé?

Eu disse sim e logo ela me pediu várias fotos dele.  –Gruda nele faz fotos de todos que ele cumprimentar, ela disse. Fiquei intrigado quase revoltado. Me plantei na frente do box que ele e sua comitiva estavam.  Logo veio um fotógrafo colega posou do meu lado e disse: – Já tocou nele? – Eu não, respondi logo. Como eu era da casa, os maitres e os garçons se colocaram na frente dos outros fotógrafos impedindo eles de registrarem de tão perto a celebridade. Veio o maitre e perguntou – Já tocou nele? Aí foi demais para mim. –Porque tenho que tocar nele?

 – Você não sabe. Ele dá sorte. É o rei que podemos tocar.

Bem, a ficha caiu se o povo fala que ele é o rei porque eu não o tocar. Se traria sorte eu ia ver mais a frente. O toquei diversas vezes naquela e em todas que eu vi depois. Mas, aquela noite não tinha acabado e dentro de mim uma pergunta gritou. Se ele é da sorte se tocá-lo imagina se fizer sexo com ele e saí perguntando a todas as modelos, pseudo atrizes, socialites que encontrei naquela noite se haviam sexo com o Rei.  Vários depoimentos todas falavam a mesma coisa no final das contas. Fazer sexo com um rei pode ser igual a qualquer outro humano, mas é diferente. Pronto, continuei a não entender nada. As mulheres aumentavam esse poder que na cama com um rei depois tudo muda e talvez bastasse uma vez. Vai entender essas mulheres

Nessa noite fiz uma linda foto do Rei Pelé e com Luisa Brunet a foto saiu na coluna do Zózimo Barrozo do Amaral e foi capa de uma revista italiana de nightlife. Semanas depois David, o diretor financeiro do Calígula, não me recordo o sobrenome. Ele me chamou no escritório e me deu a revista com a foto na capa e uma passagem para Roma da Alitalia e mais mil dólares.  Pelé realmente é um talismã. A foto da capa está lá no meu mural de lembranças.

O Rei Pelé faz oitenta anos hoje e não existe lugar nenhum nesse planeta que a imagem do rei brasileiro não tenha sido vista e reverenciada. O mundo mudou mas um rei erguido pelas mãos do povo jamais será reposto por nenhuma dinastia. 

Rei Pelé